23 de setembro de 2009

Procurando um botão

Hoje eu acordei mais tarde do que de costume. Geralmente, meu despertar normal do dia-a-dia, meu horário de abrir os olhos e pensar: “mas já é de manhã?”, é exatamente as 6:15 da manhã, já contando os 5 minutos a mais pra aquela fechada de olhos. Mas hoje, não. Simplesmente acordei as 7:10 da manhã com uma vontade enorme de não levantar. Segurei o choro (sim, sim. Tive uma lágrima enxerida querendo sair) e fechei os olhos novamente e disse a mim mesma: “Levanta, mulher. Você é forte ou você é uma fracote?”.
Não deu outra: levantei contra a minha vontade e fui tomar um banho, me arrumei, coloquei o protetor solar na cara e fui trabalhar. Não, não me achei forte por isso. Era só uma coisa que eu tinha que fazer com a vontade de não fazer. Simples como 2+2.
Levei a tira colo um livro que comprei, para ler no caminho para o trabalho, ou nas horas vagas em que não estivesse tão ocupada. Desliguei meu celular e me desliguei do mundo durante o dia todo.
Deixa eu explicar um detalhe: eu estou trabalhando com pessoas, tendo contato, explicando, usando até a droga do meu poder de persuasão, mas hoje eu fui totalmente obrigada a fazer bonito porque eu não estava bem (e não estou vendo muita saída pra sair disso nos próximos dias). O fato de eu ter desligado o celular foi porque eu não queria contato com o meu mundo, entendem?
Não queria ouvir a pergunta que eu teria que responder a verdade. Aquele velho “Você ta bem?”.
Porra, eu não to bem. To péssima. To de coração partido. To triste. E falando essas coisas me dá logo um aperto no coração. Me dá logo um nó na garganta e meus olhos ficam brilhando.
Não, não. Não quero compartilhar a minha dor falando e falando. Por isso, e pra evitar a minha voz fantasmagoricamente diferente quando estou triste (gente, isso é fato), evitei o mundo hoje e vou evitar até essa dor passar, ou quem sabe, eu apertar o botão do foda-se e tratar qualquer sentimento com indiferença.
Mas voltamos ao assunto do livro.
Fui à São Paulo na semana passada dar uma volta, ou melhor, me ferrar toda (Deus do céu!). E acabei (como sempre faço) comprando uns livros para minha coleção. Nada do que eu vi nas duas livrarias me fez apaixonar. Sempre que compro um livro, é por paixão ou curiosidade. Dessa vez, por incrível que pareça, foi por indicação, porque simplesmente não me interessei por nada e nem senti a minha mão coçando pra comprar nenhum livro novo que fizesse eu renascer.
Comprei “Para sempre Alice” e “Comer, rezar, amar”. Confesso que comprei o segundo por pura birra, porque eu não gosto muito de livros que são recorde de vendas ou porque estão na moda. Gosto do que enche meus olhos, não os olhos dos outros. Mas enfim, comprei pensando em lê-lo por último, porque sei que vou chorar horrores com “Para sempre Alice”, que uma amiga me indicou, e assumo que só comprei pra isso, pra chorar.
Comecei pelo pior caminho. Comecei lendo o livro de consolo, “Comer, rezar, amar”. Se eu fosse ler o outro no meu trabalho, ia acabar chorando na frente dos outros e eu to começando a ficar de saco cheio de ser essa idiota sentimental. Porra de sentimentalismo que nunca vai me levar a nada.
Devorei 93 das 342 páginas do livro com o tempinho que tive. Me prendeu um pouco o jeito que a autora definia seus sentimentos e descrevia cada situação absurda que ela passou. Sua depressão, que até agora não consegui entender, e o fato de não acreditar em tamanha frescura (isso, um dia, quando eu estiver bem, eu explico. Não fiquem me recriminando. Tenho segurança no que acredito e critico o que eu acho frescura, oras) me fez crer que sentimentos são uma merda mesmo para a vida de uma mulher. Nos deixa sem controle e sem a menor razão para as coisas mais simples.
Ri algumas vezes de algumas coisas, outras eu olhei e passei a página porque eu não tenho saco pra saber que os italianos são homens lindos e assanhados ( sinceramente? Prefiro os brasileiros). Me prendi em trechos que até agora voltei para ler e vou citar aqui e mostrar como essa droga de livro está me fazendo pensar numas coisas que... enfim, vou citar.
Obs: tenho mania de fazer bolinhas nas páginas que mais me interessam em um livro.

“O vício é a marca de toda história de amor baseada na obsessão. Tudo começa quando o objeto de sua adoração lhe dá uma dose generosa, alucinante de algo que você nunca ousou admitir que queria – um explosivo coquitel emocional, talvez feito de amor estrondoso e louca excitação. Logo você começa a precisar dessa atenção intensa com a obsessão faminta de qualquer viciado. Quando a droga é retirada, você imediatamente adoece, louco e em crises de abstinência (sem falar no ressentimento para com o traficante que incentivou você a adquirir seu vício, mas que agora se recusa a descolar o bom bagulho – apesar de você saber que ele tem algum escondido em algum lugar, caramba, porque ele antes lhe dava de graça). O estágio seguinte é você esquelética e tremendo em um canto, sabendo apenas que venderia sua alma ou roubaria seus vizinhos só para ter aquela coisa mais uma vez que fosse...”.

Vaca!


“A experiência de vida que meu amigo Brian comparou a ‘ter um acidente de carro gravíssimo todo santo dia durante mais ou menos dois anos’, bom era simplesmente coisa demais”.


A autora, aquela vaca, descreveu exatamente o que pensei durante um tempo. Só que no meu caso, eu imaginava uma virada de trem todos os dias. E a desgraçada acertou até os anos. Ou foi o Brian, amigo dela?
Enfim, o outro trecho que me deixou tão, tão, mas tão emocionada foi uma frase que até queria colocar no meu msn (quando eu resolver voltar pra lá), orkut (quando eu tirar da cabeça que quero deletá-lo), na testa ou quem sabe pregada nas paredes por onde eu ando: “eu acho que mereço alguma coisa bonita”.


Ahhh, eu mereço também, Elizabeth. Eu mereço.
Por fim, até onde eu li, o último pedacinho que me deixou atordoada e até me fez rir foi:


“Se eu amo você, lhe dou tudo que tenho. Dou-lhe o meu tempo, a minha dedicação, a minha bunda...” (HAHAHAHAHA.. risada minha, ta?)... "o meu dinheiro, a minha família, o meu cachorro, o dinheiro do meu cachorro, o tempo do meu cachorro – tudo. Se eu amo você, carregarei para você toda a sua dor, assumirei para você todas as suas dívidas, protegerei você da sua própria insegurança, projetarei em você todo tipo de qualidade... Eu lhe darei o sol e a chuva e, se não estiverem disponíveis, darei-lhe um vale de sol e um vale de chuva...”.


Lendo essas coisas, começo a me convencer que eu não quero mais amar ninguém, não. Tenho um amor que vai ficar guardado e nada mais. Quero ter repulsa por coisas assim. Por sentimentos que ficam me destruindo. Amor não era pra ser assim, não. Amor era pra ser como era antes: bonito, saudável e que traz paz. SÓ. Eu mereço tudo isso, droga. Mas já que ele não pode ser assim, eu é que não quero mais nada que venha dele.
Ahhhh, eu vou falar. Eu to falando.
A gente constrói coisas, faz planos, ri e conta pras amigas o quanto somos felizes e depois vem o infeliz e diz que não dá mais. Ainda te convence que você é a errada e não vê que foi ele que deixou de amar primeiro e que arrumou a primeira desculpa que apareceu pra te excluir dos planos dele. Ai eu pergunto: “ô, cara pálida, e o que eu faço com o que sobrou? O que eu faço com os meus sentimentos? Você já resolveu os seus e eu que me ferre?”
E ele responde: “você é forte, bonita, inteligente e você vai sair dessa”.
Sair dessa. Sair dessa.. SAIR DESSA É UMA PINÓIA.
Pensa que é assim? Pensa que as pessoas não tem coração como você? (sim, estou brigando com ele).
E a vontade que você tem é de matar o desgraçado, mas antes você se mata aos pouquinhos. Porque não consegue fazer mais nada além de se lamentar e chorar por uma história bacana que acabou.
O que mais dói em tudo isso?
Ver que ele se apossou das suas amigas. Ver que ele as adora, ama, venera e que você é o abajur dos ambientes. Ele se apossou das suas palavras e você assistiu cada passo dele com encanto. Como se dissesse: “deixa ele, é bonito ver ele rindo e feliz”. É, você se tornou a espectadora. Claro, porque ninguém entende que muita coisa incomoda, principalmente o fato de você não relaxar na frente dele, por exemplo. E pra piorar, depois de algum reencontro entre amigos com ele e você, todos acham (com as suas atitudes, claro) que conseguem ver outra coisa, pensam outra coisa, percebem outra coisa, constatam outra coisa, concluem outra coisa e, absolutamente, certamente, resumidamente, DESESPERADAMENTE, eles não estão dentro de você pra saber de alguma coisa e saírem concluindo o que viram ou deixaram de ver. Ninguém sabe de nada. O que se passa aqui dentro é o mesmo que levar um tiro: só você sente e sabe o transtorno que isso pode causar.
Todos se encantaram por um homem que você nunca nem tinha conhecido e que até hoje é um mistério. Você vê outra pessoa e se assusta todas as vezes. E vê que talvez ele sempre tivesse sido assim. Mas por que ele não foi essa outra pessoa com você? Por que ele criou um outro personagem? E nem existe aquela história de que "só você não via". Longe disso. No início (sempre no início), ele fez questão de mostrar que não era o cara que te fez ficar longe, com receio e que não gostava dele de jeito nenhum. Ele praticamente vendeu um produto que não existia, só pra acabar logo o estoque. Ele te convenceu que era outra pessoa. Você se aborrece com isso, se fecha quando lembra, depois fica feliz por estar vendo com outros olhos o que ele realmente sempre foi e você não estava enganada. Mas constata que realmente, ANTES ele tinha se vestido de príncipe e você caiu no golpe do encantado no cavalo branco. Uma droga, se você for parar pra pensar. Um desperdício de sentimentos.
Se você chorou, foda-se o choro, isso não é sinal que você está mostrando o que sente, o que pensa. Está só mostrando o lado de dentro sem palavras. Só as lágrimas saindo e, talvez, sei lá, um fungado aqui e outro ali. A dor, essa você deixa pra mostrar de outro jeito. Pode ser dormindo, não pode?
Ninguém precisa ver você chorando novamente. E espero de coração que isso nunca mais volte a acontecer. Quer chorar? Chora no banho, na cama deitada sem ninguém ver, chora no sonho que é melhor ainda. Mas não chore pra quem não vai entender nada ou, vai entender de outra maneira o que (de novo, repetindo) só você sabe, sente e viveu.


E quer saber? Vou terminar de ler esse livro e procurar o botão que eu falei lá em cima. O botão do foda-se.


Naiane Feitoza

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