24 de setembro de 2009

Eu tenho medo

Essa tarde, depois daquele sono que todo o ser humano merece (depois do almoço), acordei atordoadíssima com um sonho horrível que eu nem lembro qual foi. Bom, não foi exatamente um sonho que me fez ter medo, mas o acordar. Levantei de supetão, com o coração a mil pensando estar deitada em um outro quarto. Precisamente em um hotel que estive semana passada. Corri os olhos pelo meu quarto e não consegui vê-lo. Eu não estava aqui, sabe? Eu estava no hotel. E mais desesperadamente ainda procurei pelas pessoas que estavam comigo aquela semana. Meu coração ficou mais desesperado ainda e comecei a tremer. Foi quando vi a solidão que existia e dei de cara com o meu ursinho de pelúcia, e constatei: "foi só um desespero pós sonho".
Nossa, como eu não suporto isso.
Fiquei pensando desde aquela hora (as 16:40) que raios de coisas eu tenho medo. Mas medo mesmo. MEDO MEDO, não medo medo. É MEDO.
Só de pensar em voltar aquele lugar e sentir aquelas coisas de novo, nossa!, me dá logo um aperto. Com isso, fiquei analisando que TODOS os medos que eu tenho, realmente têm algum fundamento. E já parei pra pensar em todos e comecei a listá-los e colocar suas razões do lado. Até eu fiquei boba com os absurdos que me assombram.
O primeiro da lista é motivo de riso pra todo mundo, e caso achem graça também, eis o meu palavrão favorito pra vocês: "Tomarás no teu Curus".
Tenho medo de palhaço.
Isso mesmo, essa coisa mesmo que eu tenho medo. PA-LHA-ÇO. Qual o problema?
Confesso que no fundo (minhas amigas que me desculpem) vibrei de alegria quando não fomos ao Hopi Hari na semana passada. Tem um treco lá que é sobre palhaços e há muitos espalhados por todo o parque. Não, eu não ia agüentar a pressão e ia acabar tendo um ataque do coração por lá.
Esse medo vem da minha infância, precisamente quando eu tinha 7 (ou 8) anos. Aprendi a ler supercedo (orgulho da mamãe) e gastava meu tempo com quadrinhos e devorando livros na biblioteca particular da minha mãe ou da minha avó. Sem contar que passava horas cheirando livros (isso eu faço até hoje). Eis que em um dos meus dias de pura curiosidade avistei um livro que a minha mãe não largava de jeito nenhum. Ela não me deixava ler e sempre colocava-o no lugar mais alto pra eu não pegar. Até porque eu nunca aprendi a subir em nada, e ela sabe que eu JAMAIS subiria em lugar algum pra possuir o livro. Lembro que fiquei tão curiosa com aquilo que decidi investir profundamente na busca daquele tesouro.
Meu pai tinha contratado um rapaz que era "faz tudo" pra ele. Desde cuidar de nós (três filhas) até ajudá-lo na lanchonete que ele tinha na época era obrigação do menino. Então, como sei que o Janilson (esse era o nome dele) nunca ia me dizer não, disse a ele que se ele pegasse o livro pra mim eu o ajudaria a aprender a ler. CALMA! Isso foi um joguete, oras. Eu tinha que usar a única coisa que podia oferecer pro rapaz. Ele tinha 13 anos, mal sabia pegar em um lápis, trabalhava com meu pai e era da roça (literalmente). Era uma oportunidade de ouro que eu estava oferecendo a ele.
Enfim, o Janilson cedeu ao meu pedido sem nem pestanejar, mas foi logo pedindo um caderno de caligrafia. Nojento! Tive que pedir um novo pra minha mãe e justificar que tinha "dado" o meu de presente ao Janilson. Safadeza, né?
Então, ele foi na cozinha de casa, pegou o livro de cima do armário de louças (sim, sim. Ela colocou mais alto do que qualquer coisa) e o trouxe pra mim. Meus olhos se encheram de brilho quando li a capa: "A coisa". Tinha um palhaço na capa com um jeitão de marginal e um sorrisão assustador. A capa era bem dura, sabe? Daqueles livros antigos mesmo. O toquei, cheirei e fui direto para o guarda roupas com a lanterna do meu pai e sentei no montinho de toalhas que eram guardadas lá.
Comecei folheando o livro aqui e ali. De repente, uma página me prendeu e eis que leio a coisa mais HORRÍVEL que uma criança pode ler: o palhaço era assassino e matava crianças aos pedaços. Com desenho e tudo, hein. Fiquei tão apavorada quando vi aquilo, quando li, quando comecei a suar que fechei o livro e joguei o bicho do outro lado e fui embora tentar esquecer. E devo ter esquecido.
Lembro, PRECISAMENTE, quando meu pai veio uns 3 dias depois convidando a gente pra ir ao circo. Eu, boboca como tal, adorei a idéia e fomos todos. Minhas irmãs, mamãe, papai, Janilson e eu. Risinhos aqui, gracinhas ali, tudo na mais perfeita harmonia. Até que chegou a hora do "tcham, tcham, tcham". Tinha um cara no globo da morte (aquela porra que parece uma bola de ferro que os caras andam de moto dentro) andando de moto pra lá e pra cá. Um barulho ensurdecedor, quase estourando a minha cabeça e eu ali, paradinha já começando a ficar com medo. Então, o pior... Eu digo, A PIOR COISA DO MUNDO acontece: sai de lá de dentro desse globo da morte uma moto com o cara sentadinho, fazendo "vrum, vrum, vrum" e ele tira o capacete e dá a gargalhada mais horripilante que eu já escutei na vida. O filha da mãe estava vestido, pintado, caracterizado, cagado, NOJENTADO de palhaço.
O que eu fiz?
Corri. Mas corri mais que o Forrest Gump e ainda por cima gritando e chorando que nem uma condenada (meu coração começou a bater acelerado só de lembrar). Meus pais não entenderam, nem a platéia, muito menos o palhaço assassino. Eu gritava que ele ia me matar. ¬¬
E daí? E se ele fosse me matar?
Só sei que me acharam fora do circo correndo (acreditem, CORRENDO) que nem uma louca aos prantos e depois disso só lembro da minha mãe brigando comigo e com o Janilson, até porque eu contei tudo e ela soube porque achou o livro embaixo da cama dela jogado às baratas.
Passei quase um mês dormindo na cama com eles (uma verdadeira empata foda).
E até hoje tenho HORROR a palhaços. Digo, não gosto muito de ver fotos, ornamentação de aniversários, filmes e coisas do tipo, mas o meu medo mesmo é ver alguém, principalmente HOMEM vestido de palhaço. Quer me matar? Quer que eu chore? Me leve ao circo e me mostre um palhaço. Fico nervosa, começo a suar e querer chorar. Eu fujo, viu? Fujo mesmo. E sim, tenho horror a circo também. Deve ser por isso, sei lá.
Outros medos que tenho e que nem vou entrar em detalhe são os mais diversos: andar de bicicleta, por exemplo. Nadar em rio de água escura, porque eu penso que um bicho vem me pegar. Atravessar ruas (até hoje eu tenho uma coisa comigo de que vou morrer atropelada), ir a um lugar muito alto com alguma coisa na mão, ou num navio, ou em alguma coisa em movimento e deixar cair algo da minha mão que é muito valioso, esse é sem dúvida a coisa mais frequente que acontece nos meus pensamentos.
Tenho medo de tantas coisinhas.
Nem vou lembrar agora das outras porque acho que superei algum medo, sei lá.
Ah, tenho medo da cara de algumas bonecas e não assisto filme que os atores se vestem com coisas de bicho ou pintam a cara, por exemplo: O gato, Desventuras em série, A fortaleza e bla, bla, bla... Coisas assim. É macabro e eu JAMAIS consegui assistir 3 minutos dessas coisas bizarras.
Como conseguem deixar crianças assistirem isso? Até O Labirinto do Fauno eu não indicaria a ninguém, e só consegui assisti-lo por muita insistência de uma amiga e ela estava segurando a minha mão o tempo todo.
Do que será que eu tenho mais medo?
Dor? Não, não. Acho que não. Se bem que eu odeio fazer unha quando estou sensível e deixei de ser loira porque as luzes doíam a minha cabeça. Sem contar que faço escova vez sim, vez não, porque dói as vezes. Mas se eu sou louca pra ter filhos, então deve ser um medo bobo. Uma coisa qualquer.
Acho que preciso começar a superar certas coisas, mas medo de palhaço, NÃO. É demais para um só coração.
Naiane Feitoza

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