8 de outubro de 2010

Sem pressa, sim. Com planos, sempre.

                                                                                             

                                                                                             "...Onde eu possa ficar no tamanho da paz" .
Elis Regina.



É complicado falar de idade. Ainda mais pra uma mulher. E, pior ainda, se essa mulher for eu.
Sou movida à infância e as coisas bestas da vida. Não que um adulto não se encante com isso, não é bem por ai. To falando que nessa minha idade que está à beira de brilhar no dia 12 de outubro (próxima terça), fiquei pensando nas prioridades que me escaparam durante esses vinte e oito anos que passaram (sim, cambada. A bonitona ta chegando aos VINTE E NOVE).

Quando eu tinha, mais ou menos, 22 anos, lembro que estava perdidamente apaixonada. E sabe o que eu pensei naquela época? Pensei assim: “Com 28 anos estarei casada e já com um filho e com outro encomendado. Minha casa vai ser branca e com detalhes em madeira, uma estante GIGANTE para os meus livros. Terei um janelão e meu marido saberá cozinhar. Vou ter, também, um banheiro tão espaçoso que vai dar pra trancar as amigas pra fofocar. Nosso cachorro vai se chamar “gaveta” (sim, e dai?) e as crianças vão adorar ele. Ah, e terei aprendido a dirigir”. Fim.
Que ironia!

Não estou casada, não estou namorando, não sei dirigir, detesto cachorros, meu quarto é vermelho e branco e tenho uma janela pequena. Certo, não penso em compromisso, muito menos penso em me prender a isso agora, nesse exato momento. Fico pensando em como é boa essa minha vida de “amanhã? Não sei, acho que dá pra adiar pra depois de amanhã”. Entendem?

Algumas (ALGUMAS, VIU?) mulheres planejam, quando chegam a essa idade, uma plástica nova, uma bunda mais dura, uma barriga mais seca, um cabelo diferente, um sofá novo, um brinquedo especial pros filhos, uma viagem em família e tudo isso só pra mostrar que algo mudou aqui fora.
Pergunto: mudou fora? Mesmo?
Não, minhas caras, algo mudou aqui dentro e não foi meu organismo, porque essa porra continua a mesma coisa (continuo com anemia e com crises de bronquite). Algo mudou até na hora de olhar um homem e ouvir uma música. Mudou e ta virando uma tempestade louca.
Nos tornamos mais seletivas (mais?), mais chatas com limpeza e estufamos o peito pra alguém nos notar. Nos empenhamos no sexo e aprendemos coisas novas (falta só o corajoso). Tentamos não dormir tão tarde porque, convenhamos, noite mal dormida é um pecado MORTAL pra qualquer pele, fora o panda que você se transforma.

É incrível como nos gostamos mais, depois dos 25. Nos amamos de um jeito diferente. Eu me amo muito mais, se você quer saber. Sou capaz de largar um homem se ele OUSAR dizer que tenho mau gosto em me vestir ou questionar a limpeza do meu quarto. Homens só entendem do pinto deles, e eles que não venham meter o bedelho na minha organização.
Viramos umas mulheres meio desordeiras, mas com fome do novo. Tudo isso porque a maldita “era balzaquiana” está chegando e nos culpamos de não ter vivido uma “boa juventude”.
Confesso que to cagando e andando pra o que o IBGE disse sobre nós deixarmos de ser jovens aos 29 anos. To me lixando se alguém me chamar de senhora e mando se foder quem ousar dizer que não tive os melhores anos da minha vida. Eu to vivendo, gente. Vou viver. E é só um dia de cada vez. Sem culpa e com planos.

Não tenho mais a pressa de casar, de ter filhos, de ter um carro de passeio e não tenho mais pressa pra um sobrenome novo. Hoje eu tenho pressa de viver devagar. Sacou? Ãh?
Quero viver mais umas 5 paixões que me tirem todas as forças possíveis e que me façam sentir aquele friozinho na barriga do primeiro beijo. Que me arrasem de tanto chorar e que me façam ter o brilho nos olhos com um novo recomeço.
Quero, desesperadamente, conhecer os lugares mais ridículos, mais lindos, mais caros e mais estúpidos que alguém já foi.
Quero sentar num banco de praça e olhar todos os casais namorando e não ter inveja de nenhum deles, porque eu estou bem do jeito que estou.
Quero comprar mais livros, mais Dvd’s, mais roupas, mais sapatos e mais besteiras só porque vai ser só pra mim.
Quero sim, comprar uma casa com o janelão e ela toda branquinha. Quero minha cozinha do meu jeito, simples e rústica. Quero meu quarto com móveis do MEU gosto e das cores que me agradam. E quero, perdidamente, estantes de livros espalhadas por toda a casa.
Quero meus discos, meus amigos, meu bichinho, meu tapete e minha mania de dançar sozinha. Quero um cheiro de sabonete e frutas cítricas no meu banheiro. Quero tudo do nada.

Não me importo em ter que dividir, um dia, tudo isso com outra pessoa. Não me importo de ver outra roupa (que não seja a minha) dobrada em cima do meu baú, pela manhã. Pouco me importa se for demorar, se for atrasar, se for pra não ser. Não me importa.
O que me importa HOJE, é que estou chegando naquela fase da vida em que dá pra saber que nada acabou, que dá pra deixar, SIM, pra um amanhã ou depois de amanhã todos os interesses que hoje não me agradam. E eu acho que chegou a minha hora de construir algo só meu, algo que nunca dei a ninguém. Algo que nem o melhor namorado ou um grande amor ganharia. Está na hora de eu me dar a paz que meu coração e meus pés tanto pediram.

Paz pra decidir o que quero sem pensar que pode piorar.
Paz pra juntar uma graninha e já ir pensando onde construir a minha casa.
Paz pra querer crescer sozinha, mas sempre com alguém no pensamento e no coração.
Aquela paz, sabe? Aquela que a gente encontra quando chega do trabalho, tira a roupa apertada, entra no banho gelado, se enrola no lençol cheiroso e ouve o silêncio.

Não quero o barulho de outros sapatos. Não quero ter que me preocupar se vou estar feliz daqui com 10 anos. Não quero. Quero saber que hoje tenho planos, que amanhã eu os coloco em prática e vou vivendo sem pestanejar, sem me prender, sem me estressar.

É, aprendi que estando sozinha a gente consegue engolir um monte de coisas, e o maior elefante que engoli nesse tempo todo, foi que a solidão só entra se você deixar a porta aberta, a idade só te envelhece se você cansar da sua juventude e a tristeza... bom, essa é a que menos importa, porque todo mundo é feliz tendo SE amado uma única vez. A gente se acostuma, sabe? Eu me acostumei. Você irá se acostumar.

Feliz 12 de outubro pra mim e pra minha paz.
Ah, e feliz dia das crianças pra nós.

Naiane Feitoza.