10 de dezembro de 2008

Para uma amiga


Desculpa amiga, mas meu abraço não serviu para que pudesse reaver o seu amor, a sua garota. Não adiantou o choro, muito menos os sorrisos, nem minha dedicação.
Eu tentei como você. Fui até o fim com você.
Ser leal com o amor é não abandonar a tentativa. É esgotar as chances. É não permitir que um “se” seja maior do que um “sim”. É não experimentar a culpa por não ter feito. Você cumpriu tudo o que um amor pede – está quite com a vida. Não haverá aquele remorso pela covardia, omissão, indiferença.
O amor pede agora que se retire. Quando cedemos o corpo e a alma, ficamos com o corpo. Não se preocupe, alma nasce de novo e sempre.
Saio contigo se você quiser, para afogar as mágoas numa canção engarrafada de boteco.
A Garota do Rio escolheu não ficar contigo porque você criou a escolha. Lá no início, lembra? Antes ela não tinha. Você havia terminado as opções. Só agora ela entende que você a queria. Felizmente, você não deixou nenhuma vontade em desuso, nenhuma lembrança em aberto. Não se arrependa nunca disso. Gentileza é garantir a escolha, mesmo que a resposta não seja a que desejamos. Leve sua coragem para dentro de suas próximas paixões. Você não a conquistou, mas pode se conquistar de volta.
Como último pedido, deve me ajudar a não permitir que ninguém destrate a Garota do Rio ou diga nada de ruim a respeito dela. Ela não é menos porque deixou de amá-la. Não tem culpa pela sinceridade. Tão corajosa quanto você por dizer o que pensa e não se submeter ao que os outros gostariam, inclusive nós. Merece o nosso respeito do início ao fim. Não está em julgamento. Uma mulher só prova que é grande quando não diminui seu ex-amor para se valorizar. Já deixei de ser mulher várias vezes com ex-namorados. Por favor, não me repita. Assim como não irei admitir que sua busca seja confundida com perseguição. Ou fruto de um ciúme doentio. Foi uma declaração de ternura. Pena que não estamos mais acostumadas com o romantismo e confundimos fé com obsessão.
Lembra quando chegou perto de mim e me pediu "Não sei o que fazer... Me ensina?"? Pois é, eu não ensinei nada. Aprendemos as duas que o amor não tem orgulho, oferece apenas sua fragilidade. Aprendemos as duas que todo apaixonado é bi-polar, procura e hesita quase ao mesmo tempo, arrisca e desiste quase ao mesmo tempo, muda de opinião para reafirmar logo em seguida, sofre escandalosamente para não sofrer seus segredos.
Talvez tenha errado ao escrever o texto sobre seu relacionamento, talvez você tenha errado em insistir, mas são erros puros, autênticos. Erros educados. Erros que não devem fazer com que se feche daqui por diante.
Amor oferecido não se devolve. Não pede recompensa. Não exige final feliz. O amor a ela fará com que ame melhor seus amigos e sua família. Vai migrar delicadamente para quem precisa e sente falta. A palavra dá voltas. Ela ainda lembrará a música que escutavam agarradas. Ou não entenderá uma pontada estranha de saudade quando passar o ano-novo na praia. Ela não pode mais a esquecer. Pode não amá-la, mas esquecer, não. Há memória depois de uma vida juntas.
Mas agora é hora de esquecer a dor. Parta pra felicidade. Ofereço-lhe minha mão. É só pegar, não precisa pedir.
Recomece.
*Pra você. ;)
(trechos dos textos do autor Fabrício Carpinejar)

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