Tem, mais ou menos, uma semana que ela não dorme direito. Tem, mais ou menos, duas semanas que ela vem procurado respostas pra tanta coisinha pequena que vem atormentando seus pensamentos. Tem, mais ou menos, uma hora que ela acordou e viu que dormir tarde, pensar em bobagem, procurar respostas e se manter dormindo não vai resolver nada que a persegue. Ela dormia pra esquecer.
Tem menos de dez minutos que ela deu de cara com um texto de um autor que ela detesta, mas que, infelizmente, ele tem razão: “O mal do século é a solidão”.
Ela foi feliz por estar sozinha e foi muito mais feliz por estar acompanhada. Gosta das lembranças, gosta dos cheiros antigos, sente-se alegre em pensar que teve uma infância coberta de gente, risos e parentes presentes. Fica feliz só em pensar que tem histórias pra contar.
Mas o que ela não entende, é como que, com tudo isso que viveu no passando, quer se tornar alguém solitário hoje, aqui no presente, e pensa em não ser só no futuro.
Quer ficar sozinha. Quer se isolar de tudo e de todos. Mora só e afirma que é feliz em sua solidão. Mas faz planos de casar, de ter três filhos, rir com os amigos que a visitarão na sua casinha no campo, pensa em ter o marido dos sonhos, ser avó de dezenas de guris e envelhecer com uma amiga em Blumenau.
Que espécie de mulher ela é?
Que droga está fazendo da vida agora, criatura?
Compreendo que muitas coisas que passamos transformam a gente. Nos colocam em posição de defesa. Faz com que nós coloquemos um muro enorme em nossa volta e que esqueçamos que outras pessoas tentam entrar em nosso mundo só pra ajudar. Sofremos e tentamos fazer o mundo sofrer por nós. Calamos aquele gritinho por medo de parecer fracos e nos tornamos patéticos sérios.
Mas ela não quer mais isso, não.
Ela quer a fúria dos ventos no rosto e ver quantos sorrisos ela perdeu. Ainda dá tempo.
Ela quer dizer que errou, que foi uma boba e quer pedir desculpas pelas tristezas e desapontamentos. Aliás, ela esqueceu de avisar que algumas pessoas teriam que perdoá-la algumas vezes.
Ela não quer mais saber de ficar triste, nem de remoer um passado que foi bom. Não quer apagar da memória as coisas boas e quer usar as coisas ruins como um ensinamento e nunca mais errar daquele jeito. Não daquele jeito.
Ela quer dizer às pessoas com quem brincou, que a brincadeira está de volta. Às pessoas que a feriram, que não foi dessa vez que ela se deixou vencer. E à pessoa que ela amou e que, sabe-se lá o por que, a deixou no esquecimento, que ela lamenta muito por você a ter ferido, mas a tristeza é para os superiores, para quem pode com aquilo tudo. Ela bem que tentou chorar todos os dias. Tentou não sorrir e aprofundou-se perdidamente em suas lembranças mais ruins. Tentou de todo jeito se sentir culpada e mastigada por você. Mas... Ela é inferior. Ela é baixa. Ela é a ralé. Quase uma favelada que desumanamente é feliz demais pra se deixar abater.
Ela não se fechou a toa. Quis viver o mundo dos outros. A solidão dos outros. Quis provar um veneno para se punir. Quis sofrer por se achar no direito de merecer um castigo: a solidão. Se fez só, continuou só e agora ela ta mandando tudo pro inferno. Alias, mantendo tudo no inferno. “O inferno são os outros”, já dizia alguém que estou com preguiça de procurar saber.
É, ela está voltando pra casa. A velha casa. Se quiser ir com ela, as portas estarão abertas. Há sorrisos para todos lá.
Tem menos de dez minutos que ela deu de cara com um texto de um autor que ela detesta, mas que, infelizmente, ele tem razão: “O mal do século é a solidão”.
Ela foi feliz por estar sozinha e foi muito mais feliz por estar acompanhada. Gosta das lembranças, gosta dos cheiros antigos, sente-se alegre em pensar que teve uma infância coberta de gente, risos e parentes presentes. Fica feliz só em pensar que tem histórias pra contar.
Mas o que ela não entende, é como que, com tudo isso que viveu no passando, quer se tornar alguém solitário hoje, aqui no presente, e pensa em não ser só no futuro.
Quer ficar sozinha. Quer se isolar de tudo e de todos. Mora só e afirma que é feliz em sua solidão. Mas faz planos de casar, de ter três filhos, rir com os amigos que a visitarão na sua casinha no campo, pensa em ter o marido dos sonhos, ser avó de dezenas de guris e envelhecer com uma amiga em Blumenau.
Que espécie de mulher ela é?
Que droga está fazendo da vida agora, criatura?
Compreendo que muitas coisas que passamos transformam a gente. Nos colocam em posição de defesa. Faz com que nós coloquemos um muro enorme em nossa volta e que esqueçamos que outras pessoas tentam entrar em nosso mundo só pra ajudar. Sofremos e tentamos fazer o mundo sofrer por nós. Calamos aquele gritinho por medo de parecer fracos e nos tornamos patéticos sérios.
Mas ela não quer mais isso, não.
Ela quer a fúria dos ventos no rosto e ver quantos sorrisos ela perdeu. Ainda dá tempo.
Ela quer dizer que errou, que foi uma boba e quer pedir desculpas pelas tristezas e desapontamentos. Aliás, ela esqueceu de avisar que algumas pessoas teriam que perdoá-la algumas vezes.
Ela não quer mais saber de ficar triste, nem de remoer um passado que foi bom. Não quer apagar da memória as coisas boas e quer usar as coisas ruins como um ensinamento e nunca mais errar daquele jeito. Não daquele jeito.
Ela quer dizer às pessoas com quem brincou, que a brincadeira está de volta. Às pessoas que a feriram, que não foi dessa vez que ela se deixou vencer. E à pessoa que ela amou e que, sabe-se lá o por que, a deixou no esquecimento, que ela lamenta muito por você a ter ferido, mas a tristeza é para os superiores, para quem pode com aquilo tudo. Ela bem que tentou chorar todos os dias. Tentou não sorrir e aprofundou-se perdidamente em suas lembranças mais ruins. Tentou de todo jeito se sentir culpada e mastigada por você. Mas... Ela é inferior. Ela é baixa. Ela é a ralé. Quase uma favelada que desumanamente é feliz demais pra se deixar abater.
Ela não se fechou a toa. Quis viver o mundo dos outros. A solidão dos outros. Quis provar um veneno para se punir. Quis sofrer por se achar no direito de merecer um castigo: a solidão. Se fez só, continuou só e agora ela ta mandando tudo pro inferno. Alias, mantendo tudo no inferno. “O inferno são os outros”, já dizia alguém que estou com preguiça de procurar saber.
É, ela está voltando pra casa. A velha casa. Se quiser ir com ela, as portas estarão abertas. Há sorrisos para todos lá.
Naiane Feitoza.
“Quem disse que eu me mudei?
Não importa que a tenham demolido: a gente continua morando na velha casa em que nasceu.”
(Mário Quintana)
Não importa que a tenham demolido: a gente continua morando na velha casa em que nasceu.”
(Mário Quintana)
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