12 de março de 2009

Uma Abundância.


Aconteceu no dia que eu não consegui dar um sorriso. No dia que eu estava com a cabeça a mil por tantos probleminhas bobos. No dia mais quente e que o ventilador rodava ao contrário.
Estava sozinha em um apartamento em plena cidade da alegria: Salvador.
Não tinha nada pra fazer. Não tinha nada pra comer. Todo mundo tinha saído pra contemplar o seu bloco, suas mulheres, seus homens e eu ali, sentada, pensando que poderia estar na rua “vendo a banda passar...”.

Levantei de supetão. Quase que sem esperar que pudesse fazer isso mesmo. Com o cabelo armado, um vestido simples, batom na boca, sandália de dedo fui ver a cidade se movementar.
Não muito longe dali a cidade fedia a carnaval. Cerveja, suor, refrigerante, cachorro quente, mais cerveja e alfazema. Uma mistura que não causava enjoo. Não mais que o óleo queimado da fritura do acarajé, mas que nessas horas não passava de uma fumaça despretensiosa.
Depois de peruar, ouvir cantadas baratas, me proteger da chuvinha que estava sacana... Eis que quando eu menos espero, lá está. Aquela que eu não esperava encontrar. Aquela forma redonda e bonita. Mas o que vi foi mais que um movimento. Foi aquela mistura de ginga com sutileza. Um trato entre o malandro e o burguês. Uma coisa que anjos e demônios têm. Aquela bunda linda, redondinha e sei lá mais o que. As palavras fugiram.
Estava tão enfeitiçada que não vi a polícia superdelicada da Bahia passando na minha frente. Não vi que se tratava de um policial e não de um filho de Gandhy, que eu tinha em mente ser nora um dia. Não. Se tratava de um “não-civil”, de um homem faminto por confusão e com o cacetete afiado pra acertar o primeiro brigão da noite. E aquela bunda, de frente pra mim. Me olhando. Me mirando.
Porra, nunca vi uma forma tão bonita. Fiquei pensando que o rosto deveria ser deformado, cheio de marcas de um passado tão típico de quem usa a força. Imaginei a altura do cidadão e pensei em outras coisas. O tamanho das mãos e como ficaria bem como filho de Gandhy (preciso parar de pensar nesses homens. Já os citei duas vezes).
Quando eu havia me apaixonado pela primeira vez por uma bunda de menino, lembro que foi com uns 17 anos de idade. O menino jogava basquete na escola e sempre aparecia com um blusão branco e sua bermuda de pano de fundo de short. Sim, aquele pano vagabundo que não serve pra enxugar uma gota de suor. E ele tirava a camisa nos treinos e ficava com aquelas covinhas a mostra, sua bela bunda redonda e DURA para lá e para cá. Ficava suado naquela região das covinhas e colocava a mão na cintura pra ver se tirava o cansaço do corpo. Um balé de curvas, meu Deus.
Quando tudo parecia perfeito, em um treino que coincidia com o meu horário de educação física (que eu nunca fazia), fiquei lá olhando pra ele. Não olhava pra o rosto da criatura. Aquilo não me interessava. Era ela, a bunda dele, que me interessava. E ficava sentadinha pensando como seria um prazer imenso poder pegar só uma vezinha. Uma mísera vez. E suspirei: “Aiii.. que bunda linda esse menino tem”.
PRA QUE EU FIZ ISSO?
Todos me olharam. TODOS!
Professores que estavam perto, os colegas dele, meus colegas e, CLARO, ELE.
Que vergonha! Que absurdo da minha parte. Não se pode ir elogiando uma bunda assim, do nada. Ainda mais masculina, que é tão esquecida por motivos machistas.
Pra resumir, confesso que fiquei morta de vergonha e não fui a mais nenhum treino. Mas acabei namorando o dono da bunda. SIM. Namorei quase um ano com ele e pegava “na minha bunda” a hora que eu quisesse. Era minha quando estávamos de namorico.
Depois disso, sempre olhava umas aqui, outras ali. Ficava imaginando que arrumaria um namorado que tivesse uma igual aquela, aquela e aquela outra. Nunca escolhi namorados pela bunda, mas convenhamos que ela me deixa doidinha da silva.
Graças a Deus, tive sorte em conseguir namorar uma bunda mais perfeita. Opa. Quer dizer, com um rapaz com a bunda mais perfeita ainda. (risos)
Me lembro que depois do sorriso e dos olhinhos apertados, a bunda dele era a coisa que eu mais gostava nele e era a mais maravilhosa que eu já tinha visto na vida. Sim, venceu a bunda do namoradinho da escola, do namoradinho dos tempos de faculdade. Aquela bunda era “A bunda”. Linda, linda.
A história acabou, mas a paixão por aquela coisa branquinha e empinada não acabou.
Como pode ser uma coisa tão durinha e perfeitinha?
Ai, Deus, obrigada por me dar olhos tão bons e um gosto estranho.
Mas, pensando na bunda que virou motivo pra eu escrever aqui. Aquele maldito (ou bendito?) policial baiano. Aquele moreno, que depois vi que tinha um sorriso iluminador e eu, CLARO, pedi informações sobre algum lugar que eu nem lembro agora, só pra saber se ele seria gentil e tinha uma voz bonita, me deixou enfeitiçada. Acho que ele notou que eu olhava para todas as bundas que passavam, mas em especial à dele. Fiquei por lá mais de uma hora e ele também. Quando ele virava, eu mudava de cadeira. Quando ele ficava de costas pra mim, era aquela suspirada. Era só o prazer de olhar. Contemplar.
Depois dele ter me abandonado na rua da amargura para continuar a sua rota carnavalesca, lembro quando um filho de Gandhy passou (de novo?) e me deu uma vontade tão sórdida de ir até lá e levantar aquela roupa e ver se aquilo pontudo, arrebitado, volumoso era a bunda dele mesmo. Pensei que era uma mochilinha, sei lá. Se fosse, ia dizer pra ele se mancar e que mochila é pra se colocar nas costas. MAS NÃO ERA UMA MOCHILA. Era ela. Aquela de que tanto falei e admirei.
O segui até o Morro do Cristo pra ver se ele parava e comprava algo.
Deus é mais!
E não é que ele parou pra comprar bala em uma barraquinha? Com certeza era pra ficar com o hálito bom pra beijar a mulherada.
Não tive coragem de chegar perto porque o homem era bonito mesmo. De verdade. Daqueles que é difícil de ver por ai.
Mas ele me notou.
PAUSA DA HISTÓRIA.
...
Continuando...
Pense num sorriso de satisfação quando vi que ele tirou o dinheiro de uma mini-carteira e não da fictícia mochila que eu achei estar lá atrás.
Maldição. Aquela bunda era realmente bonita. E me fez andar mais de 15 minutos.
Bundão!

Naiane Feitoza

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