3 de fevereiro de 2009

O bichinho... (Como se fala aqui em Natal)



É. Pela primeira vez, fiquei triste por você.
Que outra mulher te veria além da sua casca?
Você não entende que eu baixei a música do cara que canta “Pra ser sincero", e umas boas do Emmerson Nogueira, Vinícius de Morais e do Biquíni Cavadão porque achei divertido te fazer companhia ouvindo algumas músicas que dão vontade de viver.
Uma companhia que você não vai mais ter porque está perdendo o gosto para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanto tempo estragado, plastificado e sem sal, que você está perdendo o gosto por mulheres como eu.
E você não sabe como vale à pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa, mesmo que seja pra tomar suco de manga pela manhã, lendo notícias malucas no jornal, como o cara que acha que é vampiro ou que não há emprego pra mais ninguém.
Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado, pra que alguma amiga sua, gostosa, reafirme que o seu dia valerá à pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca.
A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas: "quem gostar de mim não serve pra mim".
O que me persegue é a vontade que eu tenho de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e que seja feliz de uma vez. Que entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para serem felizes.
A gente dá muitas risadas juntos.
A gente admira o outro desde o dedinho do pé, até onde cada um chegou sozinho.
A gente acha que o mundo está maluco e quando eu menos espero, você me lembra de sonhar com a praia daquela cidade que eu disse que nunca iria morar, mas que por você, eu criaria nossos filhos por lá mesmo. Afinal, sonhamos com sonos jamais despertados antes do meio-dia.
A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. Cheiro de “depois da academia”.
A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez (na vida) de perto. Tínhamos certeza um do outro.
E agora você me olha com essa carinha banal de "eu não quero mais porque meu orgulho é maior e se você quiser, espere sentada". Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta atrás.
Volta porque, pode até ter uma com a coxa mais grossa. Pode até ter uma com a conta bancária mais recheada. Ou até ter alguma mais descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem mesmo.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. Você gosta da minha paz.
E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. Aquela de que o número 11 é um bom número pra mim e você morre só de pensar nele.
E, quando precisa se sentir especial e amado, é do meu amor que você lembra.
E, quando está longe de casa gosta de ouvir a minha voz pra sentir sua família perto de você.
E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja pra chorar ou pra ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Porque você lembra que eu também estou sozinha e que tenho os mesmos pensamentos que você.
Eu sei de tudo.
Em pensar que passei o último ano escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Chega disso. Chega dessa porra.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. Do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares que procuras.
E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca, pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e, principalmente, viver reafirmando isso pra mim.
Sabe do que mais?
Eu vou pra cama todos os dias com 3 livros e uma saudade imensa de você. Daquelas que me fariam chorar a noite toda. E faço isso sempre, desde o começo do final, ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou pra esquecer de mim.
Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração.
E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. Porque eu sofro tudo de uma vez, como qualquer mulher suficientemente filha da puta.
E não reclame dos meus palavrões. Porque eu não sou a dondoca que você imaginou que eu fosse; também não malho todos os dias, igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta. Mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia, porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba.
Eu amo. E amo intensamente.
Não vou dizer que eu te amo porque você já sabe. Sempre lembrando que, se tem uma coisa que me irrita profundamente é repetir a mesma coisa pra surdos. Além de burro, ainda é surdo. Era o que me faltava.
Portanto, eu já sou alguém que tem toda a diferença.
E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim.
Coitado. O bichinho.


Naiane Feitoza

(Texto original: Tati Bernardi - adaptado por circunstâncias ÚNICAS.)

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